Entrevista | Karen Álvares

Mais uma entrevista no blog, dessa vez com a Karen Álvares. A Karen é escritora de livros e contos, alguns de seus trabalhos incluem Ninguém, Inverso e Horror em Gotas. 




Comecei com a clássica pergunta feita a escritores e que não poderia deixar de ser feita:

Book Bus - Sei que pode parecer (e é) uma pergunta um pouco cliché, mas uma entrevista com escritor não é uma entrevista com escritor se essa pergunta não for feita em algum momento: de onde vêm a inspiração para escrever tanta coisa diferente?
Karen - Ah, não, de novo essa pergunta? Rs :) Bem, a verdade é que eu não sei exatamente. Acho que do mundo, das coisas que eu observo todos os dias. Inverso, por exemplo, veio porque tenho esse espelho enorme no meu quarto e um dia fiquei olhando para ele e pensando “será que tem alguma coisa do outro lado?”. Já Alameda dos Pesadelos veio de um sonho (ou deveria dizer, pesadelo?) que tive aos 18 anos (puxa, faz tempo! Rs).


Também questionei sobre sua escrita e seu estilo, sobre suas raízes no mundo da literatura e seus gêneros literários: 

BB - Você já tem muitos contos e livros publicados, e com certeza isso demanda muito tempo, há quanto tempo você escreve? Como começou a escrever?

Karen - Escrever pra valer, como um trabalho, publicando etc., acho que foi desde 2012. Mas eu sempre escrevi antes disso; quando era adolescente, escrevia fanfics de Harry Potter e publicava no fanfiction.net e outros sites de fãs. E, quando era ainda mais nova, escrevia contos e historinhas na escola, nada sério.

BB - Como é seu processo de criação?

Karen - Não sei se posso chamar bem de “processo”. Às vezes uma ideia aparece e precisa ser escrita na hora (ao menos seu rascunho, o primeiro capítulo, o que seja); outras, a ideia fica lá, como uma casca de ferida, até que finalmente eu tomo coragem e arranco fora, ou melhor, começo a escrever. Uma vez que eu comece também não é certo que eu vá terminar rapidamente – alguns livros foram escritos em 2, 3 meses, outros ainda estão parados, esperando. Contos geralmente são mais fáceis e vão de uma vez só, se bem que alguns deles são teimosos e empacam por semanas. Depende da história, pra falar a verdade. De qualquer forma, sempre escrevo no computador (pouquíssimas vezes à mão, esses casos somente ocorrem quando estou na rua e preciso desesperadamente escrever algo), com minhas anotações ao lado, minha gata e café. 

BB - Lendo seus trabalhos, percebi que a maioria são contos, por que a preferência por essas histórias curtas?

Karen - Contos são rápidos e vão direto ao ponto. Gosto deles, tanto para escrever, quanto para ler. Eles causam impacto, são excitantes. Você senta, escreve uma ideia, desenvolve por alguns minutos ou horas, e pronto, está feito. Além disso, contos são uma ótima porta para entrar em editoras, através de seleções para antologias, talvez aí esteja outro motivo para me dedicar ao gênero com frequência.

BB - Seus contos trabalham bastante com o desconhecido e com o fantástico, além de alguns contos que deixam o leitor perturbado, mesmo sendo curto, de onde vêm esse fascínio? 

Karen - Acho que o desconhecido e o fantástico, aquilo que não podemos ver, tocar ou provar, sempre foram e serão fascinantes para as pessoas. Fica aquele clima de mistério que nunca deixa de ser atraente. Não tem jeito, a gente ama ficar curioso!

BB - Quais as maiores dificuldades de ser escritora?

Karen - Não ter dinheiro para pagar as contas no final do mês e precisar de outro emprego para isso. O mais difícil é que escritor não é, de fato, uma profissão no Brasil. Profissão é aquilo que você trabalha e gera dinheiro para suas necessidades, e quantos escritores podem dizer que isso realmente acontece nas suas vidas?  

BB - Qual a pessoa que você mais admira? Por que?

Karen - Meu pai. Porque ele é altruísta, sensato e ao mesmo tempo uma pessoa incrivelmente divertida e amorosa, mesmo que não faça grandes demonstrações de afeto, mas expresse seu amor nas coisinhas pequenas e pontuais da vida.


Depois, conversamos um pouco sobre decisão de ser escritora e a situação da literatura no Brasil, e algumas ideias que poderiam ser aplicadas para melhorar a média de leitura per capta no país, que atualmente é de apenas 1,3 livros por ano (referência) contra 7 livros per capta por ano na França e 4,9 na Inglaterra:

BB - Quando você decidiu que queria viver da literatura?

Karen - Foi quando deixei um bom emprego em São Paulo, porque estava estressada, nervosa e cansada o tempo inteiro. Voltei a trabalhar em Santos, menos horas por semana, e decidi dedicar meu resto do tempo à escrita, algo que realmente gosto de fazer e me faz bem. Com a escrita, eu nunca fico cansada demais ou estressada, sempre termino meu dia com uma sensação boa por dentro.
BB - Por que você decidiu vender seus livros de forma independente no formato de e-book? Quais as vantagens e desvantagens de se auto publicar?

Karen - Tenho livros publicados de forma independente ou em editoras, e livros em edições físicas e e-books, então vejo os dois lados da moeda, e ambos possuem vantagens e desvantagens. No caso dos e-books e da auto publicação, a vantagem é que você tem total liberdade: você é o escritor, o revisor, o editor, às vezes até o próprio capista (criador da capa do livro), mas, por isso mesmo, algo que talvez seja uma desvantagem, você tem mais responsabilidade, afinal precisa entregar um material de qualidade ao leitor. Além disso, você é quem faz sua própria divulgação (e, no mercado atual, precisa fazer isso mesmo se estiver em uma editora), o que leva um bom tempo também e precisa ser feito com dedicação. Outra vantagem é o dinheirinho certo que vem todo mês, no meu caso, o pagamento da Amazon. Mais uma desvantagem é resistência que ainda existe de alguns leitores com os e-books e com escritores brasileiros, especialmente os novatos e/ou independentes. É um caminho difícil a ser trilhado, mas ao mesmo tempo é emocionante e muitas vezes recompensador. Um passo de cada vez, é o que dizem, não?

BB - Acho super importante estimular a literatura brasileira, que conselhos você daria a quem começando a escrever?

Karen - Escreva o que você gostaria de ler, divirta-se escrevendo, leia muito, revise seu texto, leia mais ainda. É importante enviar material para editoras com qualidade e cuidado e, mesmo que se auto publique, também deve ter o mesmo nível de cuidado com o texto. Para quem quer entrar em uma editora, recomendo ficar de olho em submissões de antologias de contos, elas são uma ótima porta de entrada. A auto publicação também é super válida, recomendo a Amazon para iniciar, o sistema é bastante intuitivo e simples. 

BB - Você acha que existe um certo “preconceito literário” com os escritores brasileiros? 

Karen - Queria dizer que não, mas não seria verdade. Existe sim, e às vezes o leitor nem se dá conta disso. Ele simplesmente olha dois livros – um estrangeiro e um brasileiro – e acaba comprando/lendo o estrangeiro primeiro (e às vezes se esquece do brasileiro). E há também o fato de que a maioria dos leitores ainda é reticente em investir em obras brasileiras, não apenas tempo, mas principalmente dinheiro; as pessoas compram mais livros estrangeiros, mas são reticentes em adquirir livros brasileiros, pechincham bastante, querem ler de graça, quando muitas vezes o livro nacional é o mesmo preço que um livro estrangeiro ou até mais barato.

BB - A média de leitura no Brasil é de 1,3 por ano, uma das piores médias do mundo, o que você acha que poderia ser feito para incentivar a leitura, principalmente para o grande público?

Karen - As pessoas precisam ver que a leitura é importante para tudo. Não é por obrigação ou diversão, é simplesmente essencial. Nós não somos ninguém se não soubermos nos expressar e pensar criticamente, e ler contribui e muito para isso. O incentivo pode e deve vir externamente, em campanhas, investimento em educação, incentivos fiscais e menos impostos, mas deve vir, principalmente, de dentro: da família, desde a alfabetização, o exemplo das pessoas mais próximas, que são as mais propensas a incentivar, de maneira duradoura, a leitura nas raízes de uma pessoa, por toda a vida. 



E, por fim, é claro que queremos saber das novidades: 

BB - Você têm novos projetos pela frente? Pode adiantar alguma coisa? 
Karen - Tenho dois lançamentos previstos para esse ano, pela Draco: uma light novel de Boy’s Love (histórias de romance entre garotos) e Reverso, a continuação de Inverso. De projetos ainda não escritos, estou desenvolvendo a ideia de um romance em torno do conto Ninguém, uma história de terror sobre a Deep Web, publicado também pela Draco, que está grátis em várias lojas virtuais (Amazon, Kobo, iBooks, Google Books, é só procurar, baixar e ler).

A entrevista foi ótima e agradeço à Karen por nos ceder seu tempo. Fica a dica de uma grande autora brasileira que só escreve coisa boa. Você pode encontrar os contos e romances aqui, aqui e aqui.


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- Matheus Kunst

2 comentários:

  1. Obrigada pelo convite, Matheus! Foi uma delícia responder à entrevista! :)
    Beijos!

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  2. Amei a entrevista!
    Li recentemente um livro da Karen e virei fã! Qualidade de escrita e de trabalho excelentes!
    Gostei bastante de vê-la comentando sobre o preconceito literário que ainda existe com nossos escritores... Ė uma tristeza mesmo perceber que os leitores dão mais preferência ao estrangeiro que a nossa própria terra... Enquanto blogueiros literários, tbm é nosso dever trabalhar pra mudar essa realidade!
    Parabéns pela entrevista! :D
    Bjos,

    www.umdiamelivro.com.br

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